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RECONHECER OS DIREITOS DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS PROTEGIDOS PELO MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA


O Brincar


O bebê brinca desde que nasce e o seu primeiro grande brinquedo é o próprio corpo. É nessa brincadeira que a criança tem a oportunidade de descobrir quem ela é, seus desejos e assim, desde pequena, começa a ser mais autônoma e autoconfiante.

O brincar é um direito expressamente previsto na lei 13.257/16, o Marco Legal da Primeira Infância. Esta lei estabelece, dentre outras coisas, que o brincar é imprescindível para o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos em diferentes espaços em que estão inseridas, como os ambientes escolares, familiares e religiosos, de acordo com cada cultura e etnia, bem como espaços sócio-ocupacionais que tenham em sua agenda políticas públicas voltadas para esse público e que ofereçam estímulos e ações no brincar que contribuam para o desenvolvimento infantil. Há muitos estudos que mostram que se não brincarmos podemos ter menos competências emocionais e sociais, bem como criativas.

Não existem dúvidas quanto aos ganhos que as brincadeiras proporcionam na primeira infância. Na perspectiva de Winnicott[1], “o brincar possibilita à criança quebrar barreiras da realidade, viver uma experiência, é uma forma de ‘viver’, 'transitando' entre o subjetivo e o objetivo. Essa mesma experiência vai ser adjetivada, ou seja, tem qualidade”. Entretanto, a compreensão de que para que a criança na primeira infância manifeste suas habilidades por meio do brincar, não incluem necessariamente jogos e brinquedos elaborados e tecnológicos, ou mesmo super estimulá-las com atividades extracurriculares. Crianças à frente de telas não é brincar. Competir numa equipe também não é o que nós queremos dizer com brincar. Brincar é uma interação espontânea e autêntica, onde tenha espaço para que ela explore o mundo à sua volta e dê asas à imaginação em seu universo de faz de conta. Dessa forma, o brincar é essencial para o desenvolvimento intelectual, emocional e social. Contribuindo para uma interação espontânea e autêntica, livre de julgamentos. Em outras palavras: incentivar, de forma responsável, a autonomia da criança, estimulando-a a escolher suas próprias brincadeiras sem interferência e de modo não dirigido. Investir na brincadeira não é perda de tempo, é ganho de saúde.

Ainda encontramos poucos espaços desenvolvidos para a garantia do direito ao brincar das crianças. Pouquíssimos espaços de lazer e as escolas ainda acreditam na metodologia de aprender através da folha e do lápis, enquanto explorar a imaginação, a fantasia, a motricidade, a socialização é a base para que a criança desenvolva as habilidades próprias de outras aprendizagens.

O brincar também é instrumento essencial para a superação das violências sofridas e elaboração de questões emocionais. Por isso, o brincar foi e é muito valorizado como instrumento terapêutico na Psicologia e Psicanálise Infantil. Melanie Klein construiu toda uma técnica de análise da criança a partir do brincar, assim como Winnicott que valorizou o brincar espontâneo e o espaço potencial que existe entre aquele que cuida e aquele que brinca. Assim sendo, através do brincar a criança pode expressar o que ela ainda não consegue associar em palavras, tendo em vista o pouco desenvolvimento da linguagem verbal. A fantasia, a representação daquilo que vivencia e lhe causa desprazer, incômodo, falta de sentido, será expressa e ganhará concretude no brincar. Winnicott explica que as crianças, desde pequenas, brincam com a realidade que se apresenta a elas todos os dias. A realidade traz para as crianças desafios diários, como também em muitos casos, dores e desamparo. Quanto mais oportunizarmos espaços potenciais de brincar para elas, mais aumentamos experiências agradáveis, lúdicas, divertidas, combustíveis para o cérebro produzir substâncias do prazer e fortalecer a criança para elaboração e ressignificação das experiências que não foram positivas para ela.

[1] WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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