Movimento de Mulheres em SG realiza intercâmbio com estudantes de Medicina da UFF
- charodri
- 17 de jun.
- 4 min de leitura
Encontro, que ocorreu na sede na instituição, no Zé Garoto, versou sobre atendimentos humanizados, integralidade e proposição de políticas públicas na Saúde e Assistência social.

Evento versou sobre atendimentos humanizados, visibilização das violências e reuniu alunos da UFF e mulheres do MMSG
Foto: ASCOM/NEACA TR
O Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG) recebeu, na quinta-feira (12/6), a visita de estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), em sua sede, no Zé Garoto (SG).
O encontro faz parte de uma cooperação técnica entre a UFF e o MMSG para realização de intercâmbios e troca de experiências entre alunos de medicina, integrantes de projetos e usuários da instituição gonçalense com a finalidade de propor atendimentos humanizados e políticas públicas nas áreas da saúde e assistência social.
A visita foi mediada pela gestora e coordenadora do MMSG, Marisa Chaves, que fez a apresentação geral e histórica da instituição, bem como expôs a missão precípua na defesa dos Direitos Humanos.
“Priorizamos ações voltadas à prevenção e enfrentamento de todas as formas de violências, de liberdade no campo dos direitos sexuais e reprodutivos e de superação de qualquer preconceito e discriminação nos atendimentos”, explicou a gestora, que ressaltou a relevância de um atendimento médico humanizado.
Durante a reunião, na modalidade roda de conversa, houve apresentação dos projetos realizados pelo MMSG e a interlocução com os estudantes, dando ênfase à visibilidade das violências e à importância dos encaminhamentos nos atendimentos primários.
Coordenadoras de projetos e mulheres vítimas de violência participaram do encontro
Além das coordenadoras dos projetos NACA, NEACA, Rede Vida, Rearticulando Rede Mulher e Vozes Periféricas, o evento contou com a participação especial da vice-diretora do MMSG Rosângela Sá, sobrevivente de uma tentativa de feminicídio, em 2009, quando teve mais de 65% do corpo queimado pelo então marido.
Rosângela falou sobre sua experiência pessoal no enfrentamento às violências, o apoio que recebeu do MMSG, além de relatar episódios do seu longo tratamento, passagens por inúmeras unidades de saúde e atendimentos em diversas especialidades médicas.

Rosângela falou sobre a experiência e luta no enfrentamento às violências e a longa trajetória do seu tratamento médico
Foto: ASCOM/NEACA TR
‘Minhas marcas são de uma guerra que eu entrei e venci’
Para Rosângela Sá, que ficou dois meses internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), o atendimento humanizado foi fundamental, mas nem sempre foi assim.
“Fiquei dois meses no CTI e um mês no isolamento. Tive 65% do corpo queimado, queimadura, de primeiro, segundo e terceiro graus. Passei por muita dificuldade e muitos profissionais da área médica não compreenderam a minha situação. Hoje eu posso ajudar várias pessoas, posso falar do que eu vivi e trazer esperança para outras mulheres. É muito difícil sozinha, mas é possível com ajuda. Possível e fundamental você sair. As minhas marcas são de uma guerra que eu entrei e venci”, destacou Rosângela.

Durante reunião, alunos de Medicina e mulheres do MMSG trocaram experiências e propuseram ações e políticas públicas Foto: ASCOM/NEACA TR
‘Temos que olhar o ser humano em sua integralidade’
A professora Manuelle Matias, que atua no Instituto de Saúde Coletiva da UFF, destacou a importância do 'olhar integral e humanizado' nos atentimentos.
“Falamos muito em integralidade na área da saúde, que é olhar o ser humano como um todo, em todos os seus aspectos. Infelizmente, no dia a dia, isso é pouco comum. Portanto, precisamos preparar os futuros médicos para lógica do atendimento humanizado. No encontro com essas mulheres, que vivem a temática das violências em suas práticas, os alunos de medicina podem perceber e entender os ciclos da violência, muitas vezes invisibilizados, e se instrumentalizarem para exercer a profissão com a perspectiva da integralidade”, explica a professora.
‘Vou levar esse encontro para toda minha formação’
A estudante Débora Teixeira, aluna do 2º período do curso de medicina da UFF, se emocionou com os depoimentos das mulheres e pretende colocar em prática os ensinamentos obtidos no encontro.
“Jamais esquecerei desse encontro. O médico precisa ter um olhar treinado para todas as causas. Aqui encontramos mulheres que têm contato em todas as esferas de violência, estão em todas as lutas, desde o atendimento primário. Quando receber uma mulher ou criança, sobretudo oriundos das periferias, estarei atenta para atender com um outro olhar, observando os aspectos de violência e preparada para fazer o encaminhamento necessário. Vou levar a experiência desse encontro para toda minha formação”, disse a universitária.
Desde 1989, em defesa dos Direitos Humanos
O MMSG é entidade da sociedade civil, que atua sem fins lucrativos, fundada há 36 anos (1989), cuja missão é enfrentar todas as formas de preconceitos e discriminações de gênero, raça/etnia, orientação sexual, credo, classe social e aspectos geracionais. A instituição trabalha em defesa dos direitos de crianças, adolescentes, jovens, mulheres e idosas, em especial, àquelas que são vítimas de diversas formas de violências, seja no âmbito doméstico ou extrafamiliar, ou que estejam vivendo com HIV/AIDS.
Não se cale. Violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei. Ligue 180 e denuncie!
Em caso de ajuda, o MMSG disponibiliza seus serviços, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17hs, no endereço abaixo:
MMSG (SG) - Rua Rodrigues Fonseca, 201, Zé Garoto. (2606-5003/21 98464-2179)
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