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ESTIMULAR E PROMOVER A PARENTALIDADE POSITIVA




A parentalidade positiva sugere uma relação entre a criança/adolescente e o cuidador(a) baseada na nãoviolência, na consistência afetiva e promotora de respeito mútuo, preconizando uma formação crítica, facilitadora do desenvolvimento da inteligência emocional.


A experiência afetiva é construída de forma distinta em cada sociedade/cultura e tempo histórico, assim como o conceito de educar, dois dos aspectos principais no processo de formação das relações sociais e afetivas entre a criança ou adolescente cuidado e aquele que exerce o cuidado/educação, chamada de parentalidade.


Historicamente, observa-se que há intrínseca referência entre educar e o uso de recursos violentos, para lidar com as demandas inerentes ao processo educativo, bem como com os desafios da convivência familiar cotidiana inserida nas construções sociais mais amplas, ou seja, na estrutura econômica, social e política da sociedade, que por sua vez determina a consciência do ‘ser’ dos sujeitos na forma material (condições objetivas de existência) e imaterial (condições não palpáveis à primeira vista de sobreviver e ter qualidade de vida).


Os recursos violentos sob a justificativa de “educar” como o uso do poder hierárquico simbólico e suas manifestações (oprimir, ofender, depreciar) e/ou o uso da força para fazer ‘calar’, fazer ‘parar’, fazer ‘ouvir’ e obedecer como visto na prática das violências físicas e psicológicas, estão relacionadas às limitações históricas culturais acerca da indisponibilidade em dialogar com o “contraditório”, ou seja, aprendemos a naturalizar a ‘vontade impositiva’ do adulto sob o corpo frágil da criança, como meio de sanar as diferenças e incongruências em potencial na relação entre o mundo adulto e o mundo infantil. Assim, compreende-se, que a violência doméstica é desafiadora justamente pelo caráter ambíguo das relações, marcadas por vivências, por vezes, não registradas como violentas, mas necessárias para a reprodução de regras e códigos sociais a serem seguidos. Nesse sentido, a relação entre quem cuida - o adulto - e quem é cuidado -a criança/adolescente pode ser respectivamente o lugar de quem “manda” e quem "obedece", não importando fazer sentido ou não para a criança/adolescente. No entanto, fazer sentido nesse aspecto educativo significa potencializar a capacidade de perceber e interpretar o mundo, fazer escolhas e tomar decisões em um processo de construção gradativo de liberdade de expressão e responsabilidade sob seu próprio corpo e dos outros.


As violências são consideradas socialmente, em dada proporção, como ‘educativas’, e ainda tolerada, visto que estão no bojo das construções socioculturais coletivas da nossa sociedade desde da sua origem, deste modo, não podemos individualizar nem tampouco reduzir os recursos violentos aos sujeitos e assim culpabilizá-los, mas pretende-se enfatizar sua fragilidade e riscos ao longo do processo educativo e emancipatório, podendo representar contradições e/ou distorções de papéis afetivos e sociais, com isto ensejar em construções individuais e coletivas que não tendem ao diálogo e ao fortalecimento dos vínculos afetivos, tornando a relação parental entre cuidador (a) e a criança/adolescente um caminho potencialmente adoecedor pautado na medição do uso da força, ora simbólica, ora física.


“No processo de maus tratos (chamados de corretivos) parece que se acentua um hiato entre gerações e uma falta de critérios para a educação dos limites sociais. É comum na sociedade brasileira, passar se da agressão ao laissez faire, estabelecendo-se o que tenho chamado de “disciplina errática” (Faleiros, 1997).


Relações parentais de afeto e trocas saudáveis são fundamentais para propor espaços de diálogo e conquistar confiança entre a criança e um adulto capaz de exercer cuidado, buscando desmistificar a violência como recurso ou resposta imediata. Educar com respeito, livre de violências é também se colocar disponível para trocas de forma recíproca e compartilhamento de saberes, visto que as crianças de acordo com suas possibilidades (dentro de cada fase do desenvolvimento) transformam suas experiências em aprendizados objetivos que refletem como lidam com as frustrações, angústias e limitações. Portanto, propor abertura para a criança expor questionamentos, dúvidas e contestações são promissores para ensinar a refletir, a se colocar diante do “contraditório”, o que exige reflexão sobre o papel do cuidador (a), além de paciência, informação e compreensão das fases do desenvolvimento infantil, assim como redes de apoio fortalecidas (primárias: família, amigos, vizinhos e secundárias: acesso a serviços públicos e políticas sociais) para partilhar as necessidades e atividades cotidianas. Tais redes de apoio são primordiais para o exercício da parentalidade positiva, que por sua vez desempenha papel estratégico na prevenção de riscos eminentes e potenciais, ou na redução de agravos e na valorização de laços afetivos e de confiança entre crianças/adolescentes e seus cuidadores.

Aqui cabe ressaltar, a sobrecarga do cuidado dos filhos constantemente imputada exclusivamente à mulher, propiciando adoecimentos além de esvaziar a importância dos homens se implicarem conjuntamente e distribuírem os desafios de cuidar com afeto e gentileza de forma protetiva. Ou seja, refletir sobre a inserção ou fortalecimento da figura masculina como cuidador tem caráter preventivo e promotor de saúde integral. Ao se discutir as relações parentais baseadas em experiências não violentas (positivas), é imprescindível refletir sobre o cuidado enquanto necessidade humana, onde todos (homens e mulheres) podem e devem participar ativamente. Sobretudo, nas situações de suspeita e/ou confirmação de violência doméstica e/ou sexual o apoio mútuo entre os membros do grupo familiar e os vínculos afetivos capazes de gerar cuidado, segurança e potencializar aspectos socioemocionais centrais no desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, podem ser decisivos na forma como cada um reage e/ou suporta e elabora o vivido.


“A pessoa vitimizada precisa de atendimento para enfrentar o trauma, com acesso a profissionais competentes e capazes de deslindar a questão numa perspectiva evolutiva e emancipatória, seja com a redução dos danos seja com a redução dos riscos. Danos e riscos se conjugam num processo complexo pois é preciso diminuir riscos que implicam a ausência ou distância do abusador, como também mudanças objetivas no convívio familiar e em suas condições de vida. O empoderamento ou empowerment da vítima implica o desenvolvimento de seu capital social cognitivo, emocional, social, afetivo” (Faleiros, 70: 1997).


Com efeito, a parentalidade positiva deve ser trabalhada em uma perspectiva sistemática, buscar desconstruir paradigmas que ultrapassam o tempo e as gerações e conformam estruturas sociais naturalizadas não são movimentos pontuais e isolados, são aprendizados que devem ser refeitos e ressignificados na coletividade. Se aprendemos recursos violentos podemos aprender recursos dialógicos ao passo que o processo educativo se dá ao longo da vida.


Como faço isto?

● Exercitar o diálogo não violento e a criatividade para lidar com conflitos e diferenças;

● Brincar e rir junto com a criança e o adolescente;

● Aprender a ouvir a criança e o adolescente;

● Estabelecer regras e combinados conjuntos;

● Ensinar a criança a lidar com suas emoções;

● Demonstrar afeto e proporcionar um ambiente seguro;

● Identificar a sua rede de apoio no processo de educação e cuidado;

● Ter conhecimento sobre as fases do desenvolvimento infantil;

● Aprender a controlar a raiva e lidar com a frustração;

● Ser exemplo (crianças e adolescentes se espelham em atitudes e comportamentos).


Uma realização do Movimento de Mulheres em São Gonçalo @movimentodemulheres_sg em parceria com a Petrobras @petrobras

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