Após sobreviver a 15 facadas, desferidas pelo ex-namorado, há 45 dias, Graciele Silva, de 38 anos, emocionou o auditório lotado no seminário 'Defesa da Vida das Mulheres' promovido pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo, na sede da OAB/SG

Graciele Silva (E) emocionou a plateia durante depoimento sobre tentativa de feminicídio sofrida por ela em São Gonçalo
Foto: ASCOM/NEACA TR
O Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG) promoveu, na quinta-feira (28/11), o seminário ‘Em Defesa da Vida das Mulheres’, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil/SG, no Zé Garoto. O evento, com entrada gratuita, ocorreu em alusão aos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, que teve início no Dia da Consciência Negra.
Mediado pela coordenadora de projetos e gestora do MMSG, Marisa Chaves, o seminário foi dividido em quatro momentos: apresentação, mesa de debates, formatura e devolutiva dos projetos. A mesa de debate, formada por mulheres, contou com a participação de representantes de instituições, civis e governamentais, voltadas à defesa e garantia de direitos das mulheres, ativistas feministas e autoridades políticas do município de São Gonçalo. As participantes falaram sobre diversas temáticas relacionadas à violência doméstica e seus desdobramentos envolvendo recortes de raça e gênero.
Uma morte a cada 10 minutos
O aumento da violência contra as mulheres foi um dos temas abordados no seminário. A gestora Marisa Chaves abriu o evento apresentando dados atuais e consolidados, com destaque para o último levantamento divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que apontou a morte de mulheres e meninas, a cada 10 minutos, em todo o mundo, por seu parceiro íntimo ou por um membro da família. No Brasil ocorre um feminicídio a cada 6 horas e no Estado do Rio de Janeiro foram registrados 10 casos, por hora, de violência contra as mulheres, em 2024.
“A cada 10 minutos, mesmo tempo que um restaurante ‘fast food’ apronta um lanche ou durante um desabrochar de uma flor, uma mulher ou menina é morta no mundo. No Brasil, a cada 6 horas ocorre um feminicídio. Na última sexta-feira, com base no atendimento do 190 da PM, o ISP-RJ divulgou que, por hora, são registrados 10 casos de violência contra as mulheres no Estado. São dados lamentáveis, mas que nos faz refletir e recrudescer a nossa luta, em várias frentes, no combate e prevenção à violência contras as mulheres”, reiterou Chaves.

Marisa Chaves (E), ao lado de Débora Albuquerque, abriu o seminário apresentando dados estatisticos sobre a violência
Foto: ASCOM/NEACA TR

Mesa de debate formada por mulheres representantes de entidades, civis e governamentais, no auditório da sede OAB/SG
Foto: ASCOM/NEACA TR
Participaram da mesa: Oscarina Siqueira (Diretora executiva do MMSG); Andreza Vanusa Da Silva (Representante da Roda de Gestante, puérperas e amigos do MMSG); Fátima Maria dos Santos (Coordenadora da comissão de saúde da mulher do Cedim e Diretora do MMSG); Avanir Pontes (Coordenadora do Fórum de Mulheres Negras de SG); Luzinete Maria de Araújo (Representante do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher e Subsecretaria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres); Sueli Ferreira (Superintendência de enfrentamento à violência contra a mulher e Representante da Secretaria Estadual da Mulher); Andrea Pereira (Presidente da OAB de São Gonçalo); Soyanni Alves (Assistente Social e Representante do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-SG), e Nathália Figueiredo (Representante do Centro Especializado de Orientação à Mulher Zuzu Angel-CEOM).
Sobrevivente em São Gonçalo
Um dos pontos altos do evento foi o depoimento da cuidadora de idosos Graciele de Souza Silva, de 38 anos, sobrevivente de uma tentativa de feminicídio, há 45 dias, quando foi golpeada 15 vezes pelo ex-namorado, dentro de um consultório dentário, em Alcântara (SG). Graciele comoveu a plateia, que lotou o auditório da OAB.
“Sim, sou uma sobrevivente de tentativa de feminicídio! Fui golpeada 15 vezes por uma faca. Tenho marcas no meu corpo, mas as marcas emocionais nunca serão apagadas. Nunca imaginei viver um relacionamento abusivo. Por isso, mulheres, falem, gritem se for possível! Procurem o Movimento de Mulheres em São Gonçalo. Se tivesse conhecido essa instituição, antes, não teria passado por tudo isso! Não quero a morte desse criminoso. Quero Justiça!”, disse Graciele, que emocionou a plateia com seu depoimento.

Acolhida pelo MMSG, Graciele se tornou um símbolo da luta pelo combate à violência contra as mulheres em São Gonçalo
Foto: ASCOM/NEACA TR
Acolhida pelo MMSG, Graciele se tornou símbolo da luta contra a violência doméstica. O autor do crime foi preso em flagrante. Após ficar internada durante 12 dias, sendo 9 em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI), Graciele conseguiu a reabilitação, busca reconstruir a vida e pretende ser uma voz ativa na luta por justiça.
"Eu quero dizer para outras mulheres que elas não precisam ser submissas ou aceitar violência. Peçam socorro, falem com alguém de confiança. Não carreguem correntes que não pertencem a vocês”, completou a cuidadora de idosos.

Coordenadoras de projetos do MMSG, Fátima Santos, Rita da Costa (E) e Lívia Gaspary (D) falaram sobre os atendimentos
Foto: ASCOM/NEACA TR
A luta continua...
“Juntas seremos mais fortes”, Oscarina Siqueira.
“Temos que desconstruir essa questão da violência. A violência contra mulher é uma pauta que não é fácil. Temos que unir todas as forças”, Luzinete Araújo.
“O ciclo de violência passa por diversos atravessamentos. É muito difícil essa mulher romper com o ciclo de violência sem ajuda. Conhecer as redes de proteção é fundamental. A mulher não é responsável pela violência que a atinge”, Sueli Ferreira.
“Quem busca o Judiciário está procurando uma solução. Precisamos de mais representatividade nas instituições. Só quem vive a realidade da violência entende esse apelo por Justiça”, Soyanni Alves.
‘O povo negro é mais atingido pela violência. E as mulheres negras são a maioria. Chega de covardia!”, Avanir Fontes.
“Em nosso novo mandato vamos lutar para incluir a pauta sobre a violência contra a mulher. Esse crime não pode ficar impune”, Andrea Pereira (OAB/SG).
“A violência obstétrica é real. Não tratamos de casos apenas na teoria. Vivenciamos essa temática e lutamos contra as violações”, Fátima dos Santos.
“O silêncio ao patriarcado é uma cumpricidade com os agressores”, Nathália Figueiredo.
“Quando uma mulher se move, ela move toda uma sociedade. Não vamos nos calar. Vamos ocupar todos os espaços e lutar pelos nossos direitos”, Janilce Magalhães (vereadora/SG).

Cantora Nilze Benedicto (E) fechou o seminário com uma apresentação musical que uniu ativistas de todas as gerações
Foto: ASCOM/NEACA TR
Formatura e devolutiva dos projetos
Durante o evento, mulheres que participaram de curso de trancista, organizado pelo Projeto Ricas do Salgueiro, foram homenageadas e receberam certificados de conclusão.
Ao fim das atividades, coordenadores dos projetos organizados pelo MMSG apresentaram uma devolutiva das ações no ano de 2024.
Atualmente, o MMSG está à frente dos projetos: Rede Vida; Roda de Gestante, Puérperas e Amigos do MMSG; Ricas do Salgueiro; Vozes Periféricas; RECRIA; Núcleos de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência (NACA); e Núcleo Especial de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência Doméstica e/ou Sexual (NEACA), que tem apoio da Petrobras.
O seminário terminou com a apresentação da cantora e artista gonçalense Nilze Benedicto e um coquetel servido ao público, aproximadamente 150 pessoas, que acompanhou o evento. Todos os inscritos receberam certificado de participação.

Formandas do curso de trancista do projeto Ricas do Salgueiro receberam certificado durante o seminário na OAB/SG
Fotos: ASCOM/NEACA TR
Atendimentos em três municípios
O MMSG atende mulheres (em todas as idades e de portas abertas) em demandas relativas às violências domésticas e/ou sexuais e também atua em apoio a outros projetos para capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social.
Iniciado em 2024, o Projeto NEACA Tecendo Redes, com a parceria da Petrobras, abrange os municípios de São Gonçalo, Itaboraí e Duque de Caxias, com o objetivo de contribuir para a promoção, prevenção e garantia dos direitos humanos de mulheres, crianças, adolescentes e jovens (até 29 anos).
Em caso de ajuda, o MMSG disponibiliza seus serviços, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17hs, nos endereços e telefones abaixo:
NEACA (CAXIAS) – Rua General Venâncio Flores, 518, Jardim 25 de Agosto. (21 96750-3095).
NEACA (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 201, Zé Garoto. (2606-5003/21 98464-2179)
NEACA Primeira Infância (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 313, Zé Garoto. (21 96750-1595)
NEACA (Itaboraí)- Rua Antônio Pinto, 277, Nova Cidade. (21 98900-4246).
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