Integrantes das equipes dos projetos NACA e NEACA participaram de um workshop com especialistas, no Zé garoto (SG), para qualificar os atendimentos ao público LGBTI+

Integrantes das equipes do NACA e NEACA com os dois palestrantes (Centro) após a capacitação nas sede do MMSG
Foto: ASCOM/NEACA TR
Integrantes das equipes técnicas do Núcleo de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência (NACA) e Núcleo Especial de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência Doméstica e/ou Sexual (NEACA) participaram de uma oficina de capacitação (workshop) sobre gênero e orientação sexual, na quinta-feira, na sede do Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG), no Zé Garoto.
Ministrado pelos professores e especialistas na temática, Mário Sérgio de Souza e Marcos Garcia, o workshop foi organizado para capacitar os técnicos e qualificar os atendimentos ao público LGBTI+. A palestra, intitulada ‘Gênero e Orientação Sexual, vamos conversar?’ versou sobre a importância do conhecimento das novas nomenclaturas e a garantia dos direitos à identidade de gênero e orientação sexual.
Durante a capacitação, os palestrantes aplicaram técnicas de estudos de casos, roda de conversa, análise de dados, além de incentivarem o debate e a participação do público sobre temas polêmicos envolvendo o ecossistema LGBTI+ e suas variadas abordagens. O professor Mário Sérgio de Souza, que coordena o 'Programa Saúde na Escola' pela Secretaria Municipal de Educação (SME) em Duque de Caxias, há 17 anos, elogiou a interação, o interesse dos participantes e ressaltou o efeito multiplicador do conhecimento.
“ A temática LGBTQI+ é complexa, polêmica, cercada de preconceitos e discriminações, mas precisa ser falada, debatida e levada a sério. Encontros como esse são fundamentais, pois a troca de ideia e o conhecimento sobre o tema têm um efeito multiplicador, além de ajudar na rotina dos atendimentos. Acredito que atingimos plenamente o nosso objetivo. Foi um encontro produtivo, houve interação e a participação efetiva do público. Cada profissional refletiu dentro de sua experiência, da sua realidade e através dos estudos de casos vieram à tona muitas questões que foram analisadas de forma objetiva”, avaliou Souza, que é biólogo de formação e um dos idealizadores do ‘Projeto Sem Vergonha’, que leva a temática às escolas públicas e particulares no Estado.

Palestrantes Mário Sérgio (D) e Marcos Garcia (E) durante a capacitação no auditório do Movimento de Mulheres em SG
Foto: ASCOM/NEACA TR
‘Romper com os preconceitos’
Para o coordenador de projetos e um dos apresentadores da palestra, Marcos Garcia, durante a capacitação houve uma conexão com os participantes. Garcia destacou a importância do rompimento dos preconceitos em diferentes âmbitos, seja familiar ou profissional.
“Teve conexão durante as interações com os técnicos. Percebemos que havia dúvidas antigas, enraizadas, que foram diluídas no decorrer das dinâmicas e rodas de conversas. Eles trouxeram contribuições positivas sobre as demandas de trabalho e suas experiências. Muitas dessas questões de gênero, identidade e sexualidades precisam ser problematizadas. Precisamos romper com os preconceitos”, disse Garcia, que é formado em administração e estudante de Saúde Coletiva na UFRJ.

No wokshop, os ténicos foram divididos em grupos para analisarem violações de direitos envolvendo a população LGBTI+
Foto: ASCOM/NEACA TR
‘Acolhimento e escuta qualificada’
A coordenadora geral de projetos e gestora do MMSG, Marisa Chaves, ratificou a importância de investir em novos conhecimentos e fez referência a vocação da instituição no acolhimento, na escuta qualificada e atendimentos de forma inclusiva, sem acepção de pessoas, independente de raça, cor, gênero, religião ou orientação sexual.
“Estamos felizes, pois, essa capacitação ministrada com maestria, pelos palestrantes Mário Sérgio e o Marcos Garcia, foi além de nossas expectativas. O MMSG tem investido em letramento e conhecimento de seu corpo técnico, pois são ferramentas fundamentais para aprimorar os atendimentos. A instituição tem a tradição do acolhimento, da escuta qualificada e da inclusão. Vamos continuar organizando outros estudos e debates”, ressaltou Chaves.

Coordenadoras dos NACAS SG e Niterói Lívia Gaspary (E) e Susana Natal (D) falaram sobre as dinâmicas dos atendimentos
Foto: ASCOM/NEACA TR
Coordenadoras do NACA apontam números significativos de casos
Lívia Gaspary, coordenadora do NACA/SG, destacou a relevância da capacitação para atender as novas demandas de casos envolvendo crianças e adolescentes vítimas de violência por conta de suas identidades de gênero ou orientações sexuais.
“Essa capacitação foi de extrema relevância, pois percebemos um significativo aumento dos atendimentos envolvendo casos de crianças e adolescentes vítimas de violência por conta de suas identidades de gênero e orientações sexuais. Atualmente, temos um caso, em andamento, de um menino trans que está sendo atendido pelos nossos técnicos. Portanto, precisamos estar preparados para essas novas demandas", reitera Gaspary.
Já a coordenadora do NACA/Niterói, Susana Natal, destacou os desafios em lidar com pais e responsáveis.
“Em alguns casos temos que lidar com pais e responsáveis que negam ou desconhecem as identidades de gênero dos filhos tornando os atendimentos e a confecção dos relatórios um grande desafio. Essas oficinas aumentam nosso conhecimento sobre a temática e nos respaldam para esses casos”, pontua Natal.

Coordenadora Marisa Chaves (ao centro) participou das dinâmicas e compartilhou suas experiências com as técnicas
Foto: ASCOM/NEACA TR
‘Liberdade de expressão’
“Essa capacitação foi importante, pois trabalhamos no acolhimento. Nos fez refletir sobre a consciência dos direitos e da liberdade de expressão. Para quem está na ponta da rede de apoio, seja na saúde, assistência ou educação, é importante sempre estar atualizado sobre essas informações”, disse psicóloga Karolina Vieira, que integra o Projeto Recria.
‘A língua portuguesa tem um viés machista’
“ Essa capacitação foi esclarecedora e demonstrou nosso papel fundamental no atendimento. A língua portuguesa tem um viés machista, por isso, sou a favor do uso da linguagem neutra para ajudar no atendimento à população LGBTI+. Trabalhamos com crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de violação de direitos. Portanto um acolhimento inclusivo fará toda a diferença” , afirma a assistente social Yasmin Gimenes ( NEACA/ SG)
‘Desconstrução diária’
“Cada técnico chegou à capacitação com um olhar ou uma experiência sobre a temática. Portanto, foi importante o debate para ‘abrir’ a nossa mente. Temos que fazer uma desconstrução diária. E não é só no trabalho, mas no dia a dia. Esse aprendizado será fundamental nesse processo de desconstrução”, acrescentou a psicóloga Clarissa Marinho (NACA/ Niterói)
‘A capacitação precisa ser estendida a todos os profissionais’
“A capacitação foi de grande valia para os profissionais que atuam no MMSG como um todo. A gente precisa, diariamente, se munir de novas temáticas, para que possamos fazer um acolhimento de qualidade. E acredito também que essa capacitação continuada precisa ser estendida a todos os profissionais que trabalham na instituição, sobretudo, os que atuam na porta de entrada, não somente os técnicos”, sugere Michelle Medeiros, assistente social NACA/SG.
‘Respeito e atendimento integral’
“A capacitação foi muito boa, positiva. Os palestrantes foram extremamente didáticos. Eles conduziram as rodas de conversa e as dinâmicas de forma eficiente, pois traziam novas questões para o debate. Destaco o aprendizado sobre as nomenclaturas; pois, nos ajudará nos atendimentos, que precisam ser um lugar de acolhimento e sem julgamentos”, relata Nathália Maria de Oliveira, assistente social (NACA-SG).
Mais de 34 mil violações relacionadas à população LGBTI+ em 2024
Conforme dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH), que divulga indicadores sobre violações de direitos humanos no Brasil, no primeiro semestre de 2024 (janeiro a maio) foram registrados 33.935 mil violações contra pessoas que se autodeclaram LGBTI+.
Foram mais de 12 mil violações relacionados a gays; mais de 8 mil relacionados a lésbicas; mais de 4 mil a bissexual e transexuais, 2 mil pessoas transgêneros, mil a "outros" e 774 relacionados a travestis, segundo o MDH.
Atendimentos em três municípios
Organizado pelo MMSG, o Projeto NEACA Tecendo Redes, iniciado em 2024, com a parceria da Petrobras, atende demandas relativas às violências domésticas e/ou sexuais e também atua em apoio a outros projetos para capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social. O projeto já abrangia os municípios de São Gonçalo e Itaboraí, e agora chega a Duque de Caxias com o objetivo contribuir para a promoção, prevenção e garantia dos direitos humanos de mulheres, crianças, adolescentes e jovens (até 29 anos).
Em caso de ajuda, o NEACA e NACA disponibilizam seus serviços, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17hs, nos endereços e telefones abaixo:
NACA (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 215, Zé Garoto. (2606-5003/989004217)
NACA (Niterói)- Av. Ernani do Amaral Peixoto, 116 - sala 401 - Centro, Niterói. (2719-8862 / 965211716)
NEACA (CAXIAS) – Rua General Venâncio Flores, 518, Jardim 25 de Agosto. (21 96750-3095).
NEACA (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 201, Zé Garoto. (2606-5003/21 98464-2179)
NEACA Primeira Infância (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 313, Zé Garoto. (21 96750-1595)
NEACA (Itaboraí)- Rua Antônio Pinto, 277, Nova Cidade. (21 98900-4246).
Recria - Rua Rodrigues Fonseca, 313, Zé Garoto. (21 96750-1595)
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