Fundadora e gestora do Movimento de Mulheres em Sao Gonçalo (MMSG), Marisa Chaves foi tema de matéria especial, publicada no jornal O São Gonçalo (OSG), na quarta-feira (11/09), que contou a sua história de vida dedicada à luta em defesa das garantias de direitos das mulheres, crianças, adolescentes e jovens vítimas de violências domésticas e/ou sexuais
Publicada com destaque, a matéria faz parte de uma série especial sobre pessoas que fizeram história em SG
Foto: Reprodução/OSG
Em celebração aos 134 anos da cidade, o jornal O SÃO GONÇALO homenageou a fundadora e gestora do Movimento de Mulheres em Sao Gonçalo (MMSG), Marisa Chaves, na série de reportagens sob o título: "Eles fazem História". A matéria, que ilustrou a capa do jornal, aludiu a história da mineira, de 61 anos, nascida na pequena cidade de Manhumirim, na Zona da Mata (MG), que chegou a São Gonçalo, aos 7 anos, e nunca mais saiu.
Em formato de entrevista, relatos e depoimentos, a matéria retratou a dedicação e luta de Marisa Chaves em defesa das mulheres e das garantias de direitos de crianças, adolescentes e jovens vítimas de violências domésticas e/ou sexuais. Oriunda de família humilde, Chaves falou de sua infância, das dificuldades ao lado dos pais e dos cinco irmãos, passando pelo espírito de liderança, dedicação aos estudos, início da militância em defesa das mulheres até a fundação do MMSG. Abaixo, mostraremos trechos da reportagem que pode ser lida na íntegra no link disponibilizado no fim desta edição.
O início de tudo - liderança
"Falar de mim faz eu me revisitar. Desde pequena tive muita liderança, começando pela participação numa turma mirim da Igreja Católica, onde aos 8, 9 anos eu já a liderava. Essa participação foi moldando a minha forma de ver a realidade. Sempre fui muito antenada com as coisas a minha volta, muito indignada com a injustiça social e depois comecei a estudar, em escola pública, durante o ensino fundamental", contou Marisa. (Fonte: OSG)
Família e chegada a São Gonçalo
"Nossa vida foi muito difícil, minha mãe com 6 filhos, um deles bebê. Eu ia sozinha para a escola e sempre fui muito estudiosa. A minha chegada a São Gonçalo foi em função dos meus pais, que procuravam se inserir no mercado de trabalho. Minha mãe nunca trabalhou fora e meu pai alfaiate, comerciante. Aqui ele se tornou funcionário de uma loja masculina muito conceituada no Rio, e assim foi criando a família, com toda dificuldade, morando de aluguel", disse Marisa. (Fonte: OSG)
Oportunidades e dificuldades
"Me formei assistente social ao mesmo tempo em que engravidei. Estava desempregada, morando no bairro Colubandê, quando surgiu a oportunidade de ser animadora cultural e compor a equipe do grande Darcy Ribeiro. Foi outro privilégio que a vida me permitiu. Fui indicada pela comunidade, para ser animadora cultural do CIEP Paulo Roberto Amaral, com a função de uma produtora cultural, que iria valorizar os aspectos da comunidade e fazê-la frequentar o CIEP enquanto espaço coletivo de promoção de cultura. O CIEP se tornou a grande referência para o bairro. Eu fazia a divulgação, mobilização, articulação, levantamento da história do bairro e trabalhava diretamente com as crianças, porque o CIEP era em horário integral", contou a assistente social, que trabalhou no local por mais de dois anos. (Fonte: OSG)
Serviço Social na prática
"Me formei assistente social ao mesmo tempo em que engravidei. Estava desempregada, morando no bairro Colubandê, quando surgiu a oportunidade de ser animadora cultural e compor a equipe do grande Darcy Ribeiro. Foi outro privilégio que a vida me permitiu. Fui indicada pela comunidade, para ser animadora cultural do CIEP Paulo Roberto Amaral, com a função de uma produtora cultural, que iria valorizar os aspectos da comunidade e fazê-la frequentar o CIEP enquanto espaço coletivo de promoção de cultura. O CIEP se tornou a grande referência para o bairro. Eu fazia a divulgação, mobilização, articulação, levantamento da história do bairro e trabalhava diretamente com as crianças, porque o CIEP era em horário integral", contou a assistente social, que trabalhou no local por mais de dois anos. (Fonte: OSG)
Origem do trabalho na área do enfrentamento à violência contra a mulher
"Passei na seleção pública para implantar o Serviço Social na 72ª DP (Mutuá). E aí eu saio de um trabalho cultural, dinâmico, de valorização dos aspectos históricos da comunidade, para trabalhar no braço direito do estado, no aparelho estatal, de coerção. Isso mexeu muito com a minha cabeça, eu só aceitei a função porque eu precisava trabalhar como assistente social, e ganhar melhor. Fui selecionada e fiquei responsável pela implantação do núcleo de atendimento à mulher dentro da 72ª DP, isso em 1987", iniciou o relato. (Fonte: OSG)
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM)
"Havia já um movimento em São Gonçalo para se implantar a DEAM na cidade, e nós fomos visitados por um grupo de mulheres chefiados por Sueli Berna, chamado Comitê de Mulheres São Gonçalo, que reivindicava a criação dessa delegacia. Quem também pertenceu a esse grupo foi Oscarina Siqueira, que hoje é nossa diretora executiva no Movimento de Mulheres. Só que esse pequeno núcleo era só uma articulação política, não tinha sede, então muitas mulheres não conseguiam encontrá-lo. Foi a partir daí que vi que tínhamos que fortalecer a sociedade civil. Conseguimos, na época, criar o NUAM (Núcleo de Atendimento à Mulher), o primeiro do Estado do Rio, que funcionava nos fundos da delegacia, com duas policiais mulheres e eu como assistente social", contou Marisa, que completou afirmando que ainda assim, não sentia que era o suficiente para atender às demandas das mulheres. (Fonte: OSG)
Fundação do Movimento de Mulheres em SG
"Em 16 de março de 1989 teve um seminário em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, puxado pela Dr. Ilma Reis, que na época era subsecretária de saúde do governo. Assim que terminou o seminário ela me procurou na delegacia e me convidou para a primeira reunião. Passei a ir em todas as reuniões. Um tempo depois a Ilma acabou saindo da pasta e eu continuei, sendo, neste momento, aclamada por esse grupo como a primeira presidenta do Movimento de Mulheres, que legalizado no ano de 1991", afirmou. (Fonte: OSG)
Primeira parceria, em 2002
"O movimento foi se fortalecendo, até que em 2002 conseguimos a primeira parceria com o Ministério da Saúde, com um Projeto de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e o HIV/AIDS. Foi o primeiro projeto financiado. Já em 2003 ganhamos um edital da FIA, para implantar o NACA-SG, e depois expandimos para o Núcleo de Atendimento à Criança e ao Adolescente (NACA) RJ e NACA-ARARUAMA. Então, desde 2003, temos coordenado projetos e programas voltados ao atendimento às crianças e adolescentes vulneráveis por serem marcados por diversos tipos de violência doméstica e/ou sexual. Essa parceria foi dando condições materiais para o movimento ter uma casa alugada, funcionários, além de honrar os compromissos com folha de pagamento", explicou a assistente social. (Fonte: OSG
Suporte e apoio às mulheres
"O Movimento me dá suporte jurídico, psicológico, assistência social, eventos para que possamos ter acesso a uma vida social que nos é privada, cursos onde estou aprendendo demais sobre a área social e direitos humanos. Meus filhos também estão sendo acompanhados por psicólogo e assistente social. O que acontece é que muitas mulheres querem tomar a decisão de sair do cárcere, mas por falta de suporte, rede de apoio familiar, sistema governamental, preconceito, sistema religioso, acabam permanecendo e morrendo aos poucos, porque a violência, de todos os aspectos, nos leva a morte, e nos tornarmos verdadeiros zumbis", completou Deise, que encontrou no Movimento o auxílio e apoio que tanto precisava. (Fonte: OSG)
Projetos sociais
"Conheci o Movimento de Mulheres através de um encaminhamento do Conselho Tutelar de São Gonçalo. Na ocasião, em 2022, eu desconhecia totalmente as leis de proteção em caso de violência doméstica e estava completamente perdida e desesperada. A partir do Movimento de Mulheres realizei os registros de ocorrência das ocasiões de terror que eu e meus filhos vivíamos e, no decorrer, recebemos todo apoio, orientação e acompanhamento. Através do movimento de mulheres estamos aprendendo a lidar com a dor e encontrando formas de superá-la. Atualmente eu e meus filhos, de 10 e 3 anos, temos acesso a terapias e acompanhamento com uma equipe de profissionais comprometidos. Sou muito grata a este movimento, pois a violência doméstica é uma dor insuperável sem a ajuda necessária", declarou a fotógrafa de 42 anos, Elizabeth Cathermol de Azevedo, moradora do Rocha, em São Gonçalo, que viu no Movimento um bálsamo para superar momentos difíceis. (Fonte: OSG)
Idealismo e militância
"Eu sou muito idealista sim, acredito que um dia teremos uma cidade onde as pessoas percebam que ela só vai ser justa quando ela for boa para todos , todas e todes. Percebo que em nome de uma hipocrisia, muitas pessoas se arvoram em dizer o que é certo ou errado, ou ficam ditando normas e regras, ou querem que as pessoas sigam determinadas filosofias ou religiões, em nome de um Deus que não é o Deus que eu acredito. Eu acredito numa força superior operária, não acredito que a sociedade vai ser boa se só for boa para um pequeno seguimento em prejuízo à uma massa de trabalhadores, que cada vez está mais distante das condições mínimas de subexistência", completou. (Fonte: OSG)
Apaixonada por São Gonçalo e toda sua população, Marisa segue na luta por direitos, justiça e igualdade
"Eu falo sempre que eu amo São Gonçalo, moro em São Gonçalo e escolhi São Gonçalo. Não sou adversária de ninguém, sou aliada de todos que querem construir São Gonçalo para a população de São Gonçalo. E continuo aqui no Movimento, venho pra cá todos os dias, e peço sempre mais oportunidades, eu quero poder, não o poder pela vaidade, mas o poder da oportunidade. Peço sempre que eu esteja capaz de galgar outros espaços de poder para garantir que as oportunidades cheguem, sobretudo para as pessoas que não conseguem acessar direitos ou que estão na invisibilidade social", finalizou Marisa Chaves.
A matéria pode ser lida na íntegra no link abaixo:
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